28 abril 2006

terços, cruzes e… termómetro

Faz hoje um mês que, pelas três da tarde, eu chegava a eMbalenhle. Um lugar completamente desconhecido para mim; de eMbalenhle apenas tinha ouvido o nome… E agora aqui estou eu, em eMbalenhle, um mês depois e uma realidade completamente diferente daquela em que estive ocupado durante os últimos doze anos. Mas a mesma paixão: a Missão – o anúncio da Boa Nova da salvação a todos os povos!

Lembro que, antes de partir de Portugal eu escrevi a algumas pessoas – especialmente jovens, leigos e até missionários – e lhes disse: “Para todos nós mantém-se o desafio de... «ide e fazei discípulos de todas as nações» – onde quer que o Mestre nos envie”. Sem partida não há missão, pode parecer radical mas é a verdade da minha convicção. Cada vez me parece mais evidente que – para os discípulos do Ressuscitado – é preciso levantar-se do sofá da missão e… partir.

Pelo que me diz respeito, a minha história pessoal diz-me que a Missão – o anúncio de Jesus Cristo único Salvador – está intimamente ligada à partida, ao sair de mim mesmo, das minhas seguranças, do meu ambiente humano, cultural, geográfico – para ser povo com outras pessoas e, com elas testemunhar a presença transformadora de Deus. Não há alternativa; para ser missionário é urgente partir: “Ide”! Partir é gritar contra a relativização que está a atingir o âmbito da Missão universal, é proclamar que o anúncio do Evangelho envolve, hoje como ontem, a totalidade de mim mesmo – sem cedências.

A totalidade de mim mesmo, sem cedências... é fácil, é natural? Não, não é. E como eu tenho consciência das consequências práticas do que estou a dizer! Na semana passada um homem, membro da nossa comunidade cristã, foi esfaqueado a menos de cem metros da nossa casa… Há dois dias, no mesmo local, um polícia foi esfaqueado e, de seguida, morto a tiro…

















Mas… onde estão os terços, as cruzes e… o termómetro?
A história é simples: enquanto preparava a minha mala para vir para a África do Sul, chegou-me um telefonema com o pedido de trazer três quilos de terços; em Fátima nunca tinham recebido uma encomenda de… “quilos” de terços!

Juntamente com os terços comprei também umas quantas cruzinhas de metal – sei como estas coisas são necessárias cá em baixo; Por motivo do peso, acabei trazendo os terços e as cruzes na mochila que trazia às costas – até porque, pensava eu, coisas tão santas não iriam provocar problemas de segurança nos aeroportos. Nunca o tivesse pensado! Tanto em Lisboa como em Londres lá tive eu que sair da fila, submeter-me a interrogatórios, desarrumar o que estava tão bem arrumadinho, desembrulhar tão preciosa mercadoria e – sempre a mesma pergunta: “porque leva isto?” Depois da resposta, voltavam a passar os sagrados objectos pelo detector de metais e… lá ficava eu a tentar colocar tudo outra vez no mesmo sítio.

Em Londres a coisa foi bem mais complicada: os funcionários da segurança, depois de desvendar o mistério dos terços continuaram passar várias vezes a mochila pelo detector; novo interrogatório: de onde vem, para onde vai, o que faz, bla bla bla… “você tem aqui algo extremamente suspeitoso…” Depois de muito averiguar – esvaziaram completamente a mochila – encontraram o objecto do crime: um minúsculo termómetro! Deram-mo de volta? Nem pensar: Isto é muito perigoso para a segurança dos passageiros… O susto foi tamanho que fiquei logo com febre e… nem pude – nem posso – medi-la, o termómetro ficou em Londres!

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