28 abril 2006

terços, cruzes e… termómetro

Faz hoje um mês que, pelas três da tarde, eu chegava a eMbalenhle. Um lugar completamente desconhecido para mim; de eMbalenhle apenas tinha ouvido o nome… E agora aqui estou eu, em eMbalenhle, um mês depois e uma realidade completamente diferente daquela em que estive ocupado durante os últimos doze anos. Mas a mesma paixão: a Missão – o anúncio da Boa Nova da salvação a todos os povos!

Lembro que, antes de partir de Portugal eu escrevi a algumas pessoas – especialmente jovens, leigos e até missionários – e lhes disse: “Para todos nós mantém-se o desafio de... «ide e fazei discípulos de todas as nações» – onde quer que o Mestre nos envie”. Sem partida não há missão, pode parecer radical mas é a verdade da minha convicção. Cada vez me parece mais evidente que – para os discípulos do Ressuscitado – é preciso levantar-se do sofá da missão e… partir.

Pelo que me diz respeito, a minha história pessoal diz-me que a Missão – o anúncio de Jesus Cristo único Salvador – está intimamente ligada à partida, ao sair de mim mesmo, das minhas seguranças, do meu ambiente humano, cultural, geográfico – para ser povo com outras pessoas e, com elas testemunhar a presença transformadora de Deus. Não há alternativa; para ser missionário é urgente partir: “Ide”! Partir é gritar contra a relativização que está a atingir o âmbito da Missão universal, é proclamar que o anúncio do Evangelho envolve, hoje como ontem, a totalidade de mim mesmo – sem cedências.

A totalidade de mim mesmo, sem cedências... é fácil, é natural? Não, não é. E como eu tenho consciência das consequências práticas do que estou a dizer! Na semana passada um homem, membro da nossa comunidade cristã, foi esfaqueado a menos de cem metros da nossa casa… Há dois dias, no mesmo local, um polícia foi esfaqueado e, de seguida, morto a tiro…

















Mas… onde estão os terços, as cruzes e… o termómetro?
A história é simples: enquanto preparava a minha mala para vir para a África do Sul, chegou-me um telefonema com o pedido de trazer três quilos de terços; em Fátima nunca tinham recebido uma encomenda de… “quilos” de terços!

Juntamente com os terços comprei também umas quantas cruzinhas de metal – sei como estas coisas são necessárias cá em baixo; Por motivo do peso, acabei trazendo os terços e as cruzes na mochila que trazia às costas – até porque, pensava eu, coisas tão santas não iriam provocar problemas de segurança nos aeroportos. Nunca o tivesse pensado! Tanto em Lisboa como em Londres lá tive eu que sair da fila, submeter-me a interrogatórios, desarrumar o que estava tão bem arrumadinho, desembrulhar tão preciosa mercadoria e – sempre a mesma pergunta: “porque leva isto?” Depois da resposta, voltavam a passar os sagrados objectos pelo detector de metais e… lá ficava eu a tentar colocar tudo outra vez no mesmo sítio.

Em Londres a coisa foi bem mais complicada: os funcionários da segurança, depois de desvendar o mistério dos terços continuaram passar várias vezes a mochila pelo detector; novo interrogatório: de onde vem, para onde vai, o que faz, bla bla bla… “você tem aqui algo extremamente suspeitoso…” Depois de muito averiguar – esvaziaram completamente a mochila – encontraram o objecto do crime: um minúsculo termómetro! Deram-mo de volta? Nem pensar: Isto é muito perigoso para a segurança dos passageiros… O susto foi tamanho que fiquei logo com febre e… nem pude – nem posso – medi-la, o termómetro ficou em Londres!

26 abril 2006

a primavera acabou…















‘Nunca pensei que ela chegasse até ao Natal de 2004’, disse-me o meu colega quando, ontem, a animadora da célula lhe comunicou que a Mbáli – Flor – tinha falecido.
É o caso para dizer que primavera já acabou, mesmo se aqui na África do Sul, só agora, estamos a entrar no Inverno: a Mbáli definhou e…. murchou, lenta e completamente.

Mbáli – foi assim que decidi chamar-te porque habitavas este lugar, eMbalenhle; mas dei-te esse nome – Flor – também pela tua juventude, pela ânsia de viver que vi no teu olhar – um olhar imensamente intenso e profundo – e pela serenidade que se respirava no pequeno quarto que partilhavas com tua mãe.

Flor, conheci-te há pouco tempo – demasiado pouco para saber algo de ti – mas… tocaste a minha vida, profundamente.

Sabes, Mbáli, há tanta gente a falecer nestes aqui em eMbalenhle: gente de meia-idade, crianças, jovens…Mas das pessoas que até agora conheci, tu és a primeira a partir… tão cedo, e após tanto sofrer…

Vinte e cinco anos não é idade para morrer, não!
Vinte e cinco anos é tempo para viver, desenvolver-se, trabalhar, constituir família; 25 anos é tempo para amar! É tempo para ser mãe, tempo para dar vida – e não, ficar sem vida…

Mbáli, o teu sofrimento já acabou, e eu acredito firmemente que, na casa do Pai, tu serás umas das flores mais belas, uma daquelas que Ele, ao passear no Seu jardim, mais acariciará. Sim, porque aceitaste a cruz com tal serenidade e amor que só Ele poderia ter-te dado força para tal.
A tua ânsia de viver – como ela era visível no teu olhar! – atingiu agora a vida plena: “vim para que tenham a vida e a tenham em plenitude”.

Bem hajas, Mbáli! Sim, bem hajas imensamente por… teres tocado a minha vida com teu olhar!

23 abril 2006

a paz esteja convosco

O tempo litúrgico da Páscoa traz até nós, com intensidade e frequência únicas, a saudação «a paz esteja convosco». É certo que Jesus, com judeu que era, usava a saudação típica da sua cultura e do seu povo – Shalom! Mas essa saudação, na boca do Ressuscitado, tem que significar algo mais do que uma mera saudação de todos os dias. Estou convencido que tem que ser algo mais, muito mais…

«A paz esteja convosco» apresenta-se com um voto, um desafio, um desejo, um projecto, uma oferta gratuita para quem, em liberdade, se disponibiliza a torná-la realidade vivida. É o coração da mensagem da Páscoa: a vida nova tornada realidade quotidiana; para sempre, sem limites de qualquer tipo, tão pouco o pecado.














Mas… eu estou num país onde, em média, cada dia são assassinadas 58 pessoas, mais de vinte mil por ano: É isto «a paz esteja convosco»?
Neste país onde me encontro, o que está em extensão não são as cidades mas as…’locations’ (cidades para africanos negros pobres): Será que é isto «a paz esteja convosco»?
Na província onde me encontro, Mpumalanga, 19% dos professores são HIV positivos: Será que é isto «a paz esteja convosco»?

Quantas perguntas, meu Deus, quantas perguntas me habitam… e a resposta – creio que seja a resposta – está nas tuas palavras a Tomé: «põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos». Sim, é isso mesmo – as tuas mãos estão aqui, à minha volta. As tuas mãos, o teu corpo, o teu coração. Tu, Senhor estás aqui – eu sinto que sim – e Tu és a Paz.

tudo entre eles era comum

Há certas páginas da Bíblia que se apresentam de leitura difícil, muito difícil; pelo menos para mim…
Na primeira leitura de hoje falava-se do modelo da primeira comunidade cristã: era assim mesmo com está escrito? Foi apenas uma fase? Era um projecto, um desejo, um sonho?
Estou convencido que terá sido tudo isso! E não apenas durante uns escassos anos, ou apenas em alguns lugares, não. A comunidade dos cristãos é habitada, desde sempre, por esse projecto-na-realidade, por esse sonho-no-concreto, em todas as fases do caminho que os discípulos do Ressuscitado percorrem. Em todos os tempos e lugares. Também aqui, em eMbalenhle!



Foi isso que presenciei hoje, uma vez mais, durante a Eucaristia: A alegria, entusiasmo e entrega que se verificava na comunidade enquanto cantava, enquanto apresentava as orações e, de modo muito sensível, durante o ofertório.

Nas celebrações dominicais o momento do ofertório dura pelo menos dez minutos ou mais. Estou em crer que é o momento mais participado: de forma ordenada, começando pelos bancos da frente, todas as pessoas saem do seu lugar pelo lado de fora dos bancos em direcção ao fundo da igreja para, em procissão, irem depositar a sua oferta nos cestos em frente dos degraus do altar.
De seguida tem lugar a segunda fase do ofertório, quando os cestos são levados para o fundo da igreja e tem início a solene procissão ofertorial: toda a assembleia se levanta e acompanha, com o canto e movimento, a oferta dos dons.

Para além do ofertório e do pão e do vinho há outras ofertas que, todos os domingos, são levadas ao altar – e aqui está uma expressão da comunhão de bens. Hoje, por exemplo, entre as ofertas havia: arroz, pacotes de massa, farinha de milho, maçãs, café, detergentes para a louça e roupa, dois frangos (congelados), chá… Certo, não é com isto apenas que se resolvem os problemas dos pobres, ou que se consegue satisfazer todas as necessidades – mas esta é, sem dúvida, uma atitude de quem compreende o desafio cristão da fraternidade e da partilha dos bens.

Há porém outras formas de partilhar o que se tem – tudo o que se tem – para ajudar a construir a novidade que a comunidade cristã é chamada a ser. Que tipo de partilha? Estou pensando no meu colega e em mim mesmo: estamos a viver aqui em eMbalenhe, com estas pessoas a quem fomos enviados, aqui no lugar onde elas habitam; e não tenho a menor dúvida que nós somos os únicos brancos entre os mais de 200.000 habitantes de eMbalenhle; e não somos sul-africanos, nem estamos aqui a fazer dinheiro, não.
Estamos aqui como cristãos, como discípulos de Jesus de Nazaré, partilhando a nossa vida – a totalidade da nossa vida: O que está em jogo é a pessoa de cada um de nós – não apenas as nossas coisas.

20 abril 2006

Mbáli quer levantar-se…

Vou chamar-lhe Mbáli, Flor!
Sim, chamo-lhe Mbali porque estou em eMbalenhle, "no lugar da flor bonita".
Mas Mbáli está a definhar e a murchar; há mais de dois anos…
Tínhamos ido ver como andava os trabalhos de acabamento na nova igreja, que será inaugurada no dia 27 de Maio e… decidimos ir visitar a Mbáli. Entrámos no pátio – todo bem varrido e em ordem – e, de dentro da casa uma voz deu-nos as boas vindas. Era a mãe da Mbáli que lhe estava dando de comer.

Vivem num quarto, de 4 metros por três, forrado com chapas de zinco, construído nas dependências da casa da família que as acolhe. O pai da Mbáli faleceu no penúltimo mês do ano passado. O pouco que têm está em ordem e o ambiente está muito limpo. Em cima da mesa-de-cabeceira, um terço de plástico espera mãos que o usem em Oração…

Mbáli está deitada, de lado, com a cabeça ligeiramente mais elevada; os seus olhos – grandes e belos – sobressaem demasiado no rosto emagrecido; os braços estão debaixo do cobertor, não tem força para os levantar… Fazemos-lhe uma festa na cara, reconhece-nos e… esboça um sorriso. Mbáli tem uns 25 anos e é doente de Sida.
Há mais de dois anos que está assim. “De manhã quase quer levantar-se”, diz-nos a mãe que, carinhosamente, lhe vai colocando alguma comida na boca, “mas é impossível pois não se mexe da cintura para baixo”...

A mãe da Mbáli cuida dela dia e noite, mas não lhe vemos qualquer traço de rancor, irritação ou impaciência. Perguntamos ‘como conseguis viver’ e… deixamos uma ajuda para o que for mais necessário e urgente.

Não há muito para conversar, as palavras apresentam-se vazias e ocas de sentido perante tão silencioso sofrimento e – paradoxalmente – perante tanta serenidade. Levantamo-nos para rezar: ‘Senhor, por favor, olha por esta tua filha, dá-lhe força e, se é de acordo com a Tua vontade, por favor, dá-lhe as melhoras que ela tanto necessita’!

Uma outra carícia na face da Mbáli – e a resposta é o seu olhar: um olhar profundo, intenso, cheio de ânsia de viver. E é tudo quanto Mbáli nos diz.
Adeus Mbáli, bem hajas!

8 horas de… aleluia!



eMbalenhle, 15 de Abril de 2006

Durante o tríduo da semana Santa praticámos a alternância serviço das comunidades cristãs. Na quinta-feira o P. Giorgio foi a Lebohang e a Kinross, enquanto que eu celebrei a Eucaristia da Ceia do Senhor em eMbalenhle. Após a leitura do Evangelho e homilia seguiu-se o momento simbólico do lava-pés: Os doze ‘apóstolos’ demoraram algum tempo a ocupar os seus lugares mas, depois de perguntarem quantos eram necessários… lá apareceram todos! Colocaram os dois pés para serem lavados mas dado que “quem tomou banho, está limpo”… só um dos pés é que foi submetido ao ritual em que o sacerdote lavava o pé, enxugava-o e beijava-o.

Para a celebração da Paixão do Senhor, na sexta-feira, eu fui a Kinross onde a língua em uso é o inglês. A comunidade estava muito reduzida devido a várias famílias terem saído para aproveitar as férias da Páscoa.
Como não se fez a Via-Sacra pelas ruas, a celebração estava terminada após uma hora e quarenta cinco minutos.
Regressei a eMbalenhle para me integrar na celebração da comunidade: a Via-Sacra pelas ruas – durou duas horas – tinha terminado e estavam na leitura da paixão.

E chegou a noite por todos desejada: a vigília pascal – o umlindelo!
O início da celebração estava marcado para as dez da noite mas, três horas antes já havia gente à espera do início da vigília!
Uma grande fogueira reuniu as pessoas fora da igreja para a bênção do fogo novo; momentos depois toda a comunidade seguia o Círio pascal aclamando Cristo, Luz do mundo.


A vigília seguiu o seu curso normal com a liturgia da Palavra a ser extremamente enriquecida, participada e celebrada. Aqui não existem formas breves nem número mínimo de leituras: todas são indispensáveis! Após cada leitura – com o salmo e a Oração – seguia-se a partilha da Palavra por membros das 17 comunidades de base, partilha que era frequentemente sublinhada por cânticos iniciados espontaneamente na assembleia.



A liturgia baptismal ficou assinalada pelo ingresso de 18 novos membros através dos sacramentos da iniciação cristã: baptismo, crisma e comunhão. Quinze dos novos membros foram baptizados enquanto que três foram recebidos pois já tinham sido baptizados noutras Igrejas. Para completar a solenidade do momento, quatro pessoas que tinham sido baptizadas celebraram também o sacramento do casamento. E os aplausos encheram a igreja e anunciaram a manhã, prestes a romper!

Faltavam cinco minutos para as seis da manhã quando os sacerdotes e os acólitos chegaram à sacristia: oito horas intensas de celebração, alegria e partilha: tudo porque o Senhor ressuscitou e, uma vez mais, nós somos testemunhas – aleluia!

Não houve muito tempo para descansar, pois estavam agendadas duas Eucaristias para as nove da manhã, uma em Lebohang e outra em Kinross; o intervalo só deu para uma hora de sono… O corpo estava pesado mas o coração, esse estava cheio de alegria e gratidão porque… o Senhor está connosco!

18 abril 2006

padre bispo


Dundee, 12 de Abril de 2006

No dia doze de Abril – quarta-feira da semana Santa – dirigimo-nos para Dundee, no norte da província do KwaZulu-Natal, sede da nossa diocese, para tomar parte na Missa Crismal; foram duzentos e cinquenta quilómetros para cada lado e connosco viajou o P. Gerald, nosso vizinho e pároco de Evander.

Nesta Diocese de Dundee é tradição celebrar a Missa Crismal na manhã de quarta-feira da semana Santa para possibilitar a presença dos sacerdotes nas suas comunidades durante o dia de quinta-feira Santa.

A comunidade sacerdotal estava quase completa e a Eucaristia foi presidida por D. Michael Paschal Rowland, bispo emérito desta diocese. Devido à sua situação de saúde, D. Michael retirou-se há um ano do serviço activo; estamos agora á espera que seja nomeado um novo bispo…

Em Outubro de 1993, um mês após a minha ida da África do Sul para Portugal, D. Michael visitou-me em Fátima; concelebrei várias vezes com ele na capelinha das Aparições; foi a casa do meu irmão Domingos, em Proença-à-Nova, e a casa da minha Mãe, na Zoina!

D. Michael, franciscano e primeiro bispo de Dundee, é um homem muito simples, amigo e fraterno; o único título com o qual deseja ser tratado é «father bishop» - padre bispo.
Agora, no nosso re-encontro após mais de doze anos, manifestou-me a sua grande alegria e gratidão pelo meu regresso à sua diocese, acabando por referir que «já te esperava há três anos»!

No regresso a casa passámos pelo Centro Pastoral Diocesano «Pax Christi», em Newcastle, para adquirir alguns objectos religiosos. A capela do Centro Pastoral – construída no início dos anos noventa – é dedicada ao nosso Fundador, o Beato José Allamano. Nas proximidades de Newcastle os missionários da Consolata têm a seu cuidado três grandes comunidades cristãs – Madadeni, Blaauwbosh e Osizweni – onde trabalham quatro missionários: um italiano, um ugandês, um colombiano e um queniano.

Quando já estávamos perto de eMbalenhle, parámos para… apanhar «kosmos»! Os kosmos são flores silvestres que, nesta época do ano, cobrem extensões enormes de terreno, dando aos campos um aspecto deveras maravilhoso. A razão de as apanhar era para enfeitar o altar da reposição na noite de quinta-feira.

À volta do altar

eMbalenhle 4 de Abril de 2006

Nas escolas da província de Mpumalanga as férias da Páscoa começaram ontem. É necessário aproveitar bem os dias desta primeira semana de férias para preparar convenientemente a Semana Santa que se aproxima, em particular, a sua dimensão litúrgica.

Tendo em vista o tríduo pascal, os acólitos dos três centros de culto – eMbalenhle, Lebohang e Kinross – foram convocados para um dia de formação, convívio e Oração.
Estavam preparadas trinta cadeiras mas… não foram suficientes.
A parte da manhã foi dedicada à formação, levando os jovens a tomar conhecimento dos acontecimentos que a Igreja celebra na semana maior do ano litúrgico, e das suas consequências para a vida dos discípulos de Cristo.

Após um momento de oração, P. Giorgio começou por apresentar uma visão geral da Semana Santa, fixando-se em particular sobre o Domingo de Ramos e a sexta-feira Santa. Optou-se por usar o inglês como língua de trabalho, dado que alguns não tinham acesso ao zulu, mas o dia acabou por ser uma imagem da diversidade linguística tão característica deste país.




















Na segunda parte da manhã, foi a minha vez de apresentar uma reflexão sobre o mistério que celebramos na quinta-feira Santa – a Eucaristia – ajudando os jovens a descobrir e a assumir a grandeza do serviço litúrgico, assim como a relação privilegiada com a Eucaristia que eles são chamados a cultivar.

A manhã tornou-se longa e a fome já apertava… O almoço foi uma especialidade: papas de milho com carne e salsichas assadas na brasa!




















O encontro terminou a meio da tarde, com o grupo reunido à volta do altar após uma hora de adoração Eucarística.

Deixai vir a Mim as criancinhas



eMbalenhle 3 de Abril de 2006

Aproveitando o primeiro dia das férias da Páscoa, nesta segunda-feira tivemos, aqui na missão, uma actividade com um grupo de crianças órfãs: Têm idades compreendidas entre os seis e os 15 anos, e são crianças que o meu colega está ajudando através de ofertas que lhe vêm da sua terra natal, no norte de Itália.
Estes quinze órfãos passaram aqui parte do dia para… responderem às crianças italianas que, juntamente com as ofertas, enviaram também desenhos fazendo a descrição da aldeia e da escola, ao mesmo tempo que se apresentavam e enviavam saudações para as crianças órfãs de eMbalenhle.

As crianças chegaram pelo meio da manhã: após uns momentos de brincadeira tiveram direito a uma chávena de chá com leite e pão com manteiga.




















Numa das salas de catequese estavam expostos os desenhos vindos de Itália, todos devidamente traduzidos – pelo P. Giorgio – de italiano para zulu: as crianças observaram com atenção, alegria e gratidão os desenhos que lhes tinham sido enviados.

De seguida, armados com lápis e borracha, debruçaram-se sobre folhas de papel e… toca de responder aos amigos italianos; quando todos terminaram o seu próprio desenho foi lindo verificar – uma vez mais – como a capacidade criativa das crianças é deveras ilimitada. Eram lindos os desenhos dos nossos órfãos: falavam deles, do lugar onde habitam – eMbalenhle – da escola, da igreja, do que gostam de fazer, como gostam de brincar. Mas, nos desenhos das nossas crianças, não havia menção de pai ou mãe…

















Como conclusão de todo o ‘trabalho’ todos tiveram direito a um prato de arroz com frango, acompanhado com um copo de sumo e – a terminar – uma guloseima: ovos de Páscoa, oferecidos pelo pároco da cidade vizinha, Evander.

O dia foi lindo para as crianças e muito gratificante para nós missionários: não há nada mais bonito do que a beleza do sorriso de uma criança feliz!

15 abril 2006

zúlu - inglês - zúlu - sútu


eMbalenhle 3 de Abril de 2006

O dia foi muito agradável, se bem que algo exigente: saímos de casa: às 6,40 para a primeira Eucaristia às 7,30, em zulu (eram uma comunidade de africanos negros); depois fomos para outra que iniciou já passava um pouquinho das nove para outra, desta vez em Inglês e à qual eu presidi; viemos a correr aqui para casa, onde às 10,30 tivemos outra em zúlu: foram duas horas de Eucaristia em que, no final, tivemos a eleição do Conselho Paroquial! E foi muito linda, os cânticos muito cheios de vida e expressão, com procissões dançantes da palavra e dos dons.

Depois de acolher um grande número de pessoas que veio tratar de assuntos vários com o padre, comemos alguma muito à pressa e fomos para a última Eucaristia do dia, nas dependências de uma mina de ouro: as pessoas eram apenas 13 mas...a Missa demorou uma hora e vinte; nós celebrámos a Missa em zulu mas as pessoas leram as leituras e cantaram em súto, e cantaram tudo!!!

Hoje o meu colega foi comigo, dado que eu nem sabia por onde ir, mas na semana santa terei que ir eu para um lado e ele para o outro; ele ficará aqui em casa (a comunidade é muito maior) e eu andarei por fora. É um ambiente muito diferente daquele em que eu estive da outra vez que cá estive, também pela mistura linguística, que se torna muito expressiva nos cânticos, então os cânticos em sútu são duma força e vivacidade impressionantes, lindos!

12 anos depois


eMbalenhle 30 de Março de 2006

Cheguei à África do Sul, na passada terça-feira, 28 de Março de 2006; a última etapa da viagem constou de 11 horas de voo no-stop – coitadas das minhas pernas, costas e dos meus fracos “apoios”!
O p. Carlos Domingos (um missionário da Consolata português, a trabalhar na África do Sul hà 12 anos) foi buscar-me ao aeroporto e... apanhou duas horas de seca à minha espera; viemos almoçar - já passava das três da tarde - aqui a eMbalenhle, que já é na diocese de Dundee, mesmo no topo norte, ligando com a de Johannesburgo; ele queria levar-me a visitar a missão na diocese de Pretória e a outra na diocese de Johannesburgo mas o Superior estava aqui à espera e, por isso, viemos logo aqui para eMbalenhle.

eMbalenhle, a missão onde me encontro, é um nome que significa «no lugar da flor bonita». Na verdade, eMbalenhle é uma cidade de cerca de 240.000 (duzentos e quarenta mil) habitantes - a grande maioria a viver em barracas de chapa...
Esta cidade foi iniciada nos tempos do apartheid como lugar de habitação para os africanos negros situados na proximidade de Secunda e Evander - daqui a Secunda são 20 Km... - cidades que vivem das minas de carvão e ouro e, sobretudo, das estações energéticas da Sasol. Os missionários da Consolata já trabalharam aqui no início dos anos 80, mas então viviam na cidade branca de Evander; regressaram há poucos anos atrás, fruto da opção preferencial e exclusiva pelos mais necessitados, os africanos negros dos grandes slums urbanos.

Para mim tudo é novo aqui em eMbalenhle, apenas o colega com quem estou não é novo: porque tem 64 anos, e porque há doze anos eu tinha estado com ele uns cinco anos, mas numa realidade completamente diferente daquela em que nos encontramos agora. De qualquer modo, creio que não haverá problemas de maior (ele tem grande experiência pois já está neste país há 34 anos) e saberemos trabalhar juntos para o bem desta gente. Entre os 240.000 habitantes os católicos conhecidos são pouco mais de dois mil, nem chegam a ser 1%...
Do nosso território fazem ainda parte outros dois lugares contando mais de 150.000 habitantes: Lebohang e Kinross.
Estou num mundo imenso e, por enquanto, eu nem me sei orientar no meio de tantas quelhas, ruas e estradas, numa geografia quase plana onde tudo me parece a mesma coisa; mas creio que será uma questão de tempo e... de ir abrindo os olhos, a mente e o coração.

Estarei aqui em eMbalenhle pelo menos até aos meados de Maio – e o motivo mais urgente é para o serviço da Semana Santa, dado que temos três centros de culto...; de 8 a 12 de Maio teremos a Conferência da Delegação e, a seguir, terei um mesito para rever a língua Zulu; depois disso não sei se me mandam para aqui de vez, ou se será para outro lado; mas... estou em crer que será para aqui, pois é este o lugar que está vazio...