21 agosto 2006

Henrique Lampião Kupula



















Tem 31 anos e é moçambicano, da zona interior de Inhambane.
Veio para a África do Sul – como milhares de outros moçambicanos – para amealhar alguns…. randes de modo a melhorar a sua situação.

Por muito que o Henrique tentasse, a verdade é que não encontrou trabalho que lhe permitisse sonhar dias melhores na terra natal – tudo porque não consegue os documentos de residência como trabalhador.
Mesmo estando “ilegal”, o Henrique trabalha todos os dias, mais ou menos desde as oito até ao fim da tarde. Faz uns biscates que lhe vão rendendo alguns randes ao fim de cada dia.

Encontrei o Henrique em eMbalenhle – víamo-nos todos os dias: o Henrique tem a sua “oficina” mesmo à frente da residência dos missionários em eMbalenhle. Todos os dias me saudava com um sonoro «bom dia senhôr pádre, como estás»? Depois de uns dias até o meu colega já tinha aprendido a resposta.
Todas as semanas prometia que havia de vir á Missa mas… ou pela roupa ou pelo trabalho – era sua justificação – a verdade é que nunca o lá vimos. Mas estava todos os dias à frente da igreja!

As ruas de eMbalenhle estão cheias de lombas, melhor dito “senhoras” lombas: é preciso parar e meter a primeira para as poder ultrapassar – quem assim não faz deixa lá sempre algo do carro, e o mais comum é o tubo de escape. A maior percentagem do trabalho do Henrique é mesmo soldar tubos de escape, mas é hábil em qualquer tipo de trabalho que tenha a que ver com soldar.

«Tá difícil, a concorrência é muita» era o que me dizia o Henrique quando lhe perguntava como iam as coisas. Na verdade, eMbalenhle está cheia dessas oficinas ao ar livre onde muitos procuram encontrar modos honestos de sustentar a família – e vários são moçambicanos.
Na zona de eMbalenhle – seguramente pelas possibilidades de trabalho nas minas ou nas estações energéticas – há um grande número de pessoas vindas de Moçambique; gente de presença assídua na Eucaristia dominical e envolvidos na vida da comunidade cristã; grande parte deles é Manhique de apelido; aliás, um dos Manhiques é dono de várias lojas na zona de eMbalenhle.

O Henrique tenciona amealhar algum dinheiro para voltar para Moçambique, talvez nos finais do próximo mês de Setembro. Comprou um “isikorokoro” – uma carrinha muito velha – que deseja reparar de modo a que possa afrontar a viagem até Moçambique: quer chegar a casa de carro.



Recordo que, quando me despedi do Henrique Lampião, lhe notei a voz embargada e vi algumas lágrimas a correr pela face – creio que havia muito tempo que não recebia um abraço.
Dei-lhe algo para juntar às suas economias, ao que ele agradeceu dizendo «obrigado, senhôr pádre, isto vai chegar até Moçambique».