03 março 2009

Umemulo

 

escrito por Carlos Domingos

 

 

Como muitos povos Africanos também os Zulus dão realce particular a certos momentos da vida como o nascimento, o período da puberdade até ao casamento e a morte. Tradicionalmente estes tempos especiais eram celebrados e marcados pelo sacrifício de animais aos antepassados.

 

Como vimos anteriormente, hoje os Zulus não têm uma iniciação à vida adulta para os rapazes. Mantêm-se ainda uma para as raparigas e a cerimónia chama-se umemulo. As cerimónias ou factos significativos da vida da jovem começam com a puberdade e culminam com o umemulo que é uma espécie de transição para a idade adulta.

 

Quando os pais orgulhosos de uma jovem (digamos, de 20 a 26 anos) vêem que a moça tem sido boa, respeitosa e não perdeu a virgindade, que “honrou” a família com o seu comportamento decidem proporcionar-lhe esta festa. Ela é agora, por sua vez, honrada, especialmente pelo pai, através desta cerimónia. A finalidade é agradecer e honrar o comportamento exemplar do passado agradecendo os antepassados, mas ao mesmo tempo, pedir as bênçãos dos antepassados para o futuro. No futuro inclui-se o culminar de qualquer relação que a jovem já tenha iniciado (mas sem levar ao sexo) ou inicie agora.

 

A cerimónia em si envolve a separação das outras pessoas por algum tempo significando a mudança de estado juvenil para adulto. Um elemento fundamental da cerimónia é o “teste da virgindade” para garantir que a jovem efectivamente se manteve casta. Outro elemento é o de no dia da festa a jovem, com as suas amigas mais íntimas, dirige-se a um curso de água para se lavar, mas sobretudo para se purificar ritualmente. Mais ninguém se pode aproximar das jovens durante este tempo. De retorno a casa esta é coberta com um xaile especial: o véu de gordura de uma cabra entretanto sacrificada, e cuja carne será consumida pelos presentes.

Segue-se a “reincorporação” caracterizado pelo sacrifício ritual de animais, danças e festas. Hoje é também costume a jovem receber vários presentes durante a cerimónia como notas de banco, que são fixadas ao seu cabelo ou ao guarda-sol com alfinetes.

 

É durante a cerimónia que a moça é declarada apta para o matrimónio e portanto o namoro por começar “oficialmente”. Se ainda o não tivesse feito, a moça podia talvez dar os primeiros passos mandando uma “carta de amor” a um jovem que lhe tivesse agradado. Mas como os Zulu não tinham escrita (a língua escrita foi articulada pelos missionários) estas “cartas de amor” na realidade são feitas de missangas de cores diferentes. Cada cor tem o seu significado e certas combinações referem-se a mensagens particulares. Encontros de namoro têm lugar quando o jovem visita ou também ele escreve uma “carta” a declarar quanto ama a jovem. Assim que a jovem decide que gosta deste pretendente pode dizer-lhe abertamente. É só depois de ambos terem admitido que se amam mutuamente que se mostram juntos em público. Os pais de ambos deveriam saber da relação só quando o jovem os informa que querem casar.

 

Obviamente, em geral há muitas festas de passagem dos “21 anos”, mas não são muitas as jovens que têm o umemulo, embora haja quem venha da cidade e até peça aos amigos que a acompanhem até aos cantos mais remotos da zona rural para afirmar fidelidade às tradições.

 

E embora o ideal da virgindade não seja tão atraente como em tempos passados, a sociedade aplicou esta tradição a outros campos. Hoje por exemplo bancos a oferecer “fundos de investimento do Umemulo” para significar precisamente um investimento que atinge a sua maturidade (e pode ser levantado) quando os filhos entram na maioridade (21 anos).

 

Face à síndrome da SIDA, há quem proponha um retorno às antigas tradições para contrariar o avanço do vírus e outras doenças venéreas.