22 dezembro 2010

18 outubro 2010

¡Gracias, Señor!


Estamos em Outubro: mês do Rosário, mês das Missões.

Hoje é dia 13 de Outubro:

a)       Em Fátima uma enorme multidão de pessoas está louvando Deus pelo dom que Maria de Nazaré, fiel e disponível – "faça-se em mim segundo a Tua vontade" – deu á humanidade: Jesus, o enviado do Pai!

b)       Na mina de S. José (Chile) situada no deserto de Atacama – o deserto mais seco do planeta – está em curso a "operação S. Lourenço": a aldeia global que é o mundo está colada a televisores e computadores acompanhando o resgate – renascimento – de 33 mineiros prisioneiros nas entranhas da terra durante 69 dias. Ao saírem da cápsula, que os transportou de 622 metros de profundidade até ao coração da solidariedade fraterna, são muitos os que trazem vestida uma T-shirt que tem escrito na frente "¡Gracias, Señor!" enquanto que outros se ajoelham e levantam as mãos ao céu em gratidão.

 

Confesso que estou a viver este dia 13 de Outubro num estado de emoção indizível, passo o dia a fazer zapping: das imagens de Fátima para as imagens da mina de S. José e – pelo meio – vêm ao de cima imagens de duas pessoas muito queridas, muito ligadas a Fátima e á Mãe Consolata - o Copi e a Vivi, Leigos Missionários da Consolata de partida para a Colômbia: comovo-me de contínuo e dou graças áquele que é o Senhor pelas maravilhas que Ele continua a realizar!

 

Estimados Copi e Vivi, eu daria tudo – na verdade não tenho nada! – para estar fisicamente convosco no dia em que ides receber a Cruz do Envio Missionário.

Dou graças ao Senhor pelo caminho que percorremos "juntos" na humilde procura da vontade de Deus. Creio poder dizer que foi um caminho longo, não tanto no tempo ou na distância mas sim na intensidade, nas opções e nas decisões: perceber e acolher a vontade do Pai.

Foi, sem dúvida nenhuma, um caminho em subida que vos levou ao crescimento e á abertura.

Fostes fortes ao lidar com as minhas fragilidades, incongruências e desatinos: estou-vos imensamente grato por isso. Peço-vos que olheis sempre para a meta e que não permitais que as pedras do caminho vos façam cair e desistir: são apenas pedras, o que conta é a meta!

 

Recordo Almeida: a dureza do desconforto e a desolação do imprevisto, a necessidade urgente dos princípios e das convicções.

Recordo aquela noite em que, no bunker da capela do centro juvenil perante Jesus na Hóstia consagrada, vos dei uma folha de papel com estas palavras "ontem foi o dia do meu funeral…": o dom da nossa vida, as relações que permanecem, o tempo e a existência nas mãos de Deus. Estou certo que foi das coisas mais ousadas – e mais 'sem jeito'! – que fizémos, mas que nos ajudaram a colher a nossa passagem pelo mundo como doação, doação sem limites.

Recordo as vezes que o Copi se ajoelhou e beijou os pés de quem acabava de receber a Cruz do envio missionário.

Recordo a emoção – e a alegria sã – das nossas despedidas 'missionárias'.

Recordo……

 

Queridos amigos, centrai sempre a vossa vida – a vossa doação – nessa Cruz que levais ao peito: ela não é um triunfo nem uma uma honra, essa Cruz é um privilégio: Fostes escolhidos, chamados e enviados – simplesmente porque Ele vos ama: "sem Mim não podeis fazer nada"!

Sêde felizes, alegres e generosos na vossa doação ao Senhor e em nome do Senhor!

Sêde fortes nas dificuldades: as "tempestades e ventanias" – a cruz! – são parte integrante da vida missionária.

Vivei em gratidão, de braços e coração abertos Áquele que veio para que "tenham a Vida e a tenham em abundância"!

Abraço-vos e… ajoelho-me aos vossos pés: "como são belos sobre os montes os pés daquele que anuncia Boas Notícias"!

¡Gracias, Señor, pelo Copi e pela Vivi!


zém – missionário na áfrica do sul


05 outubro 2010

Dia Mundial das Missões

A construção da comunhão eclesial é a chave da Missão

 

Queridos irmãos e irmãs,

O mês de outubro, com a celebração do Dia Mundial das Missões, oferece às Comunidades diocesanas e paroquiais, aos Institutos de Vida Consagrada, aos Movimentos Eclesiais e a todo o Povo de Deus uma ocasião para renovar o compromisso de anunciar o Evangelho e atribuir às atividades pastorais uma ampla conotação missionária. 


Caríssimos, neste Dia Mundial das Missões cujo olhar do coração se expande sobre os imensos espaços da missão, nos sentimos todos protagonistas do compromisso da Igreja em anunciar o Evangelho. O impulso missionário sempre foi sinal de vitalidade para as nossas Igrejas (cfr. Encíclica Redemptoris missio, 2) e a sua cooperação é testemunho singular de unidade, fraternidade e solidariedade, que torna críveis os anunciadores do Amor que salva!


Renovo, portanto, a todos o convite à oração, ao compromisso de ajuda fraterna e concreta em apoio às jovens Igrejas, não obstante as dificuldades econômicas. Tal gesto de amor e de partilha, que o serviço das Pontifícias Obras Missionárias, às quais agradeço, proverá a distribuir, ajudará na formação dos sacerdotes, seminaristas e catequistas nas mais distantes terras de missão e encorajará as jovens comunidades eclesiais.


Na conclusão da mensagem anual para o Dia Mundial das Missões, desejo expressar, com particular afeto, meu reconhecimento aos missionários e as missionárias que testemunham nos lugares mais distantes e difíceis, muitas vezes também com a vida, o advento do Reino de Deus. A eles, que representam as anteguardas do anúncio do Evangelho, a amizade, a proximidade e o apoio de todo fiel. "Deus, (que) ama quem doa com alegria" (2Cor 9,7) os encha de fervor espiritual e de profunda alegria.


Como o "sim" de Maria, toda a resposta generosa da Comunidade eclesial ao convite divino ao amor pelos irmãos suscitará uma nova maternidade apostólica e eclesial, que se deixando surpreender pelo mistério de Deus amor, o qual "chegada a plenitude do tempo... enviou o seu Filho, nascido de uma mulher" (Gl 4,4), doará confiança e audácia aos novos apóstolos. Tal resposta tornará todos os fiéis capazes de ser "alegres na esperança" (Rm 12,12) ao realizar o projeto de Deus, que deseja "a constituição de todo o género humano no único povo de Deus, a sua união no único corpo de Cristo, a sua edificação no único templo do Espírito Santo" (Ad gentes, 7).

 

BENTO XVI


08 setembro 2010

trancas na porta

A África do Sul - antes e depois da Taça do Mundo de Futebol - é tristemente "famosa" pelo elevado grau de insegurança e criminalidade. Basta recordar que as estatísticas relatam uma média diária de 52 pessoas mortas violentamente, o que dá um total anual de vinte mil pessoas vitimas fatais da criminalidade

Os criminosos têm um gosto especial pelos carros - com pessoas dentro ou sem elas... Tanto assim que, em muitas estradas, se encontra o aviso oficial "hijacking hot-spot, don't stop": são mais de dezasseis mil os sequestros de carros com pessoas dentro. Os semáforos são um dos lugares preferidos pelos criminosos, mas não se inibem de o fazer onde quer que lhes apeteça.

A indústria da segurança faz milhões enquanto se propõe proteger as pessoas e os bens.

Não há escassez de meios - a escolha depende apenas da bolsa do freguês: abundam sistemas de todo o tipo: eléctricos, electrónicos, por telemóvel, por satélite... Cadeados, correntes, muros, portões, arame farpado de todos os tipos, guardas em uniforme com bastão, com arma, com carro... alarmes portáteis sonoros, sprays de pimenta e mais não sei de quê...

Há, porém, quem confie mais no antigo método artesanal da tranca na porta! 

Há dias encontrei esta carrinha estacionada à frente de um dos supermercados de Newcastle, na Província do KwaZulu-Natal. 

Verdade seja dita que o dono da carrinha não deixa a segurança do seu veículo por mãos alheias: por um lado usa um eficaz sistema paralelo - um cadeado em cada porta - e, por outro lado, não pagando qualquer mensalidade à companhia de segurança, não contribuía para a engorda financeira dos seus donos. Assim é que é!

04 setembro 2010

Cristãos cumprimentam D. Francisco



Francisco Martinez, missionário da Consolata a trabalhar em Moçambique hà 40 anos, foi ordenado Bispo no dia 30 de Maio na catedral de Maputo.

D. Francisco é o segundo Bispo da Diocese de Gurué.

24 julho 2010

preciosa

'Com esse nome nunca te poderei perguntar pela tua filha' disse-lhe eu com ar sério mas, ao mesmo tempo, divertido. 'E porquê? Porque razão não podes perguntar-me pela minha menina?' 'É simples', disse-lhe eu, 'imagina o que as pessoas pensarão quando eu disser: Como é que está "A Minha"'? Percebeu e abandonou-se numa abundante gargalhada!

Chamava-se Gúgu - Preciosa - e já andava pelos trinta e tal anos quando teve a sua menina.
Explicou-me que a razão de ter dado à sua menina o nome de "A minha" foi porque, quando por ocasião do parto estava no hospital, as enfermeiras perguntavam repetidamente 'de quem é esta criança que está a chorar' ela dizia sempre 'é a minha'. Quando se tratou de baptizar a menina, é claro que o primeiro nome que lhe veio à cabeça foi... "A minha"!

Escolher o nome para a criança recém-nascida é, tradicionalmente, um dever do pai da criança; ou então, como acontece nos nossos dias, uma tarefa conjunta do pai e da mãe - caso se assumam como tal.  

Mas a Gúgu esteve sózinha, sempre sózinha: antes do nascimento da sua menina, durante e depois. O pai da criança, esse foi apenas... progenitor, nunca foi pai. Tanto que após menos de um ano de vida da criança, matou a Gúgu e, de seguida, enforcou-se.

Gúgu trabalhava como educadora com as crianças mais pequenas no infantário da Igreja de Maria Imaculada; a sua sala era... um contentor metálico. Passava os dias numa roda viva de volta dos seus vinte e tal petizes: a mudar fraldas, a limpar, a dar de comer, a lavar. Um sorriso enorme brilhava continuamente no rosto da Gúgu! 

O contentor era sempre a primeira sala na minha visita: tocava-me a dedicação e a contínua boa disposição da educadora, num ambiente tão sem condições mas de que ela nunca se lamentava. Bastavam-lhe as crianças! E "A minha" estava lá no meio delas, uma entre as muitas a quem ela se dedicava e amava por igual.

E "A minha" ficou a criança de todos os familiares da Gúgu, mas ficou sem a sua Mãe: chamará mãe a todas as mulheres da família, é assim entre os Zúlus, mas nunca dirá Mãe naquele jeito que todos nós conhecemos e com aquele sentimento que nos enche o coração...

"A minha" tem agora dois anos mas por muito que chame pela mãe - na escuridão da noite, quando tiver fome ou quando cair e se magoar - a sua Mãe, a quem deram o nome de 'preciosa', não pode responder-lhe nem acariciá-la nem abraçá-la... Nem "A minha" poderá alguma vez sentir o que é um carinho de Mãe...

Hà dias encontrei-me com pessoas da família da Gúgu que me disseram: 'está aqui "A minha", vem vê-la'. Está linda, lindíssima "A minha"! Estou certo que herdou de sua Mãe a boa disposição e o sorriso. Abracei "A minha", dei-lhe um beijo na testa e disse-lhes: 'Agora devíeis mudar-lhe o nome e chamá-la..."A nossa"!

19 julho 2010

novecentos quilómetros para celebrar a Eucaristia

"Obrigado Padre, muito obrigado, pelo dom da Eucaristia!"
Foram estas as palavras que mais ouvi ontem e anteontem, sábado e domingo, quando me desloquei à Missão de Damesfontein para celebrar a Eucaristia em mais de metade das doze comunidades que compõem aquela Missão.

Por decisão superior - motivada pela falta de pessoal e pela necessidade de reorganização - os missionários da Consolata tiveram que entregar a Missão de Damesfontein aos cuidados do Bispo diocesano de Dundee, na província do KwaZulu-Natal. 

Dadas as dificuldades do Bispo em encontrar pessoal, os missionários da Consolata permaneceram ainda mais 14 meses na Missão para além da data estabelecida. Durante os três primeiros meses deste ano houve um sem número de telefonemas e conversas com o Bispo no intuito de encontrar uma solução que tivesse em conta as necessidades do Povo de Deus daquela Missão.

Na ausência de substitutos, os missionários da Consolata tiveram mesmo que deixar a Missão de Damesfontein na segunda-feira de Páscoa: uma solução tremendamente dolorosa e - porque não dizê-lo? - frustrante: depois de 34 anos deixamos a Missão sem... padre; um sofrimento indizível para quem fundou e denvolveu aquela que chegou a ser a Missão mais significativa da presença dos missionários da Consolata na África do Sul. 

Desde o domingo de Páscoa que a Missão está entregue aos conselhos de comunidade e aos animadores: são doze comunidades cristãs numa zona de grandes distâncias em que as pessoas vivem em grande pobreza pela ausência de possibilidades de trabalho, uma população feita de idosos e crianças em idade escolar.

São doze comunidades que hà três meses não têm a celebração da Eucaristia, sem sacramentos nem coordenação na formação catequética, sem ponto de referência. Para os problemas mais urgentes e difíceis os animadores telefonam ao padre Giorgio - o último missionário da Consolata ao serviço da Missão de Damesfontein - ou ao Bispo.

Perante a dolorosa situação, o padre Giorgio e eu decidimos deixar os nossos habituais compromissos num fim de semana e ir oferecer a Eucaristia a algumas das comunidades de Damesfontein: uma viagem de 900 quilómetros para celebrar a Santa Missa com sete comunidades!

As igrejas estavam impecávelmente em ordem, os cânticos escolhidos, os leitores organizados, os vários momentos da celebração devidamente preparados, as catequeses a funcionar. Que orgulho e que alegria!

Ontem, domingo, a primeira Eucaristia teve lugar às sete e meia da manhã - um horário magnífico em tempo de Verão; agora estamos no Inverno e ontem às sete horas a temperatura era de... menos cinco graus (-5)... brrrrrrr.

Ao entrar da igreja senti-me, porém, inundado por uma imensa onda de calor: as pessoas cantavam com voz potente e cheia de expressão pela alegria de celebrarem a Eucaristia - de braços abertos vieram ao meu encontro e diziam apenas: "siyabonga, siyabonga Baba" - obrigado, obrigado Padre!

09 julho 2010

sou Bispo das pessoas ou dos animais?

No dia 18 de Abril do ano passado o padre José Luis Ponce de León, missionário da Consolata, foi ordenado Bispo para o Vicariato Apostólico de Ingwavuma, o quarto Bispo daquele Vicariato.

Ingwavuma é o território entre a Suazilândia e o sul Moçambique: com uma área de 12.386 quilómetros quadrados o Vicariato é habitado por 538.237 pessoas das quais apenas 23.350 são católicos.

O Bispo José Luís tem pela frente grandes desafios para guiar a Igreja no anúncio do Evangelho: as grandes distâncias, a deficiente qualidade dos meios de acesso, a alta incidência da sida/hiv, assim como a falta de pessoal. Dos 12 padres a trabalhar no Vicariato apenas 8 são diocesanos.

O território do Vicariato conta com vários parques e reservas naturais: para chegar á pequena cidade de Hlabisa, onde se encontra a Catedral e a residência do Bispo é necessário atravessar um desses parques naturais. Foi nessa estrada que, dois meses antes da ordenação episcopal, o carro em que viajava o padre José Luís foi violentamente investido por uma... vaca. O carro ficou em péssimo estado mas os ocupantes - o futuro bispo, o Administrador do Vicariato e eu - saíram ilesos.

"Eu sou Bispo das pessoas ou dos animais"? Perguntou-se há tempos o nosso confrade perante o grande número de reservas naturais existentes no seu Vicariato.

Esta manhã recebi uma mensagem do Bispo José Luís: "Obrigado pelo teu telefonema de ontem, apanhaste-me no meio da reserva quando regressava a casa;  na noite anterior encontrei-me com dois búfalos e um rinoceronte no meu caminho, mas ontem não houve nada, creio que passei á hora da oração da tarde deles"!

O Bispo José Luís, como bom missionário formado na escola do trabalho manual, tem andado a reorganizar a casa onde vai viver: "Ontem foi um dia muito longo e cansativo, visitei duas comunidades e trouxe caixas de documentos e papéis para o escritório; ainda tenho muito que fazer naquele escritório. A zona dos hóspedes já está pronta: quem vier só tem que se lembrar de levar baldes de água para a casa de banho... podeis vir a qualquer momento".

Todos os domingos o Bispo José Luís vai celebrar a Eucaristia em três comunidades de alguma das Missões: "combino com os padres as comunidades onde irei, mas as comunidades não são avisadas da minha presença de modo que tenho ocasião de ver as coisas como elas são na normalidade; não há recepções solenes nem fanfarras nem danças nem discursos de ocasião: é uma experiência muito linda e genuína da vida cristã das comunidades".


04 junho 2010

Lígia: uma nova vida na missão de Catrimani

Neste dia enfeitaram-me como uma Yanomami só faltou mesmo foi tirar a roupa.....
Estou com um grupo de crianças que sempre me acompanham para qualquer lado onde vá.
Assim fica mais fácil pois elas conhecem a floresta e os seus perigos.

03 junho 2010

sinto-me nascer de novo, estou muito feliz

Acabei de chegar da Missão Catrimani depois de 2 meses e meio, por mim ainda lá estava mas acharam melhor vir a cidade para contactar a família e descansar um pouco.

Sinto-me muito bem, com bastantes picadas dos mosquitos mas, com o tempo, vamo-nos habituando.

Estou a aprender aos poucos a língua Yanomami; é um pouco chato para mim que adoro falar, ainda falo muito pouco a sorte é que alguns já falam um pouco de português e vamo-nos entendendo.

Estou a gostar, como não tinha expectativas tudo corre bem: Gosto da equipa com quem estou, somos 4 mulheres e 3  homens.

Tive mesmo de me despir de tudo, como se começasse a viver uma nova vida; neste momento sou uma pessoa muito diferente, até fisicamente pois emagreci, para mim é óptimo, pois fazemos caminhadas pela floresta.

Cada dia é uma aventura: andar de barco no Catrimani, dormir numa maloca no meio da floresta, tomar banho no rio, beber dessa água, a casa de banho é na floresta, tudo muito diferente do que até hoje tinha vivido. 
Muitas vivências fazem-me lembrar a infância, andar descalça, andar no meio da natureza.... a minha mãe dizia que o que fosse encontrar algum dia teria vivido.

Sinto-me nascer de novo, como se tivesse voltado a viver: tudo é tão diferente que sinto-me um bebé. 
Estou muito feliz, ter conhecido uma nova realidade uma nova forma de viver.

Este povo dá uma grande lição de vida vivida: viver o dia a dia, do que lhe dá a floresta, do trabalhar da roça. Precisam pouco para viver, têm uma coisa que na nossa sociedade deixou de existir: a liberdade, a paz e muito mais. 

Nunca senti tão forte a união na dor: faleceu um jovem yanomami... mexeu muito comigo pois todos choraram a sua morte, todas as comunidades se unem para chorar.

Em princípio estarei aqui na cidade até 13 de Junho; quero voltar logo ao Catrimani, pois lá é que me sinto bem, como que esteja em casa, é a minha nova casa!

Lígia Cipriano
leiga missionária da Consolata - Catrimani, Roraima

07 maio 2010

campeonato mundial e direitos humanos


O Cardeal Napier fala do risco de tráfico humano durante o Campeonato Mundial de Futebol


A experiência demonstra que todo grande evento desportivo atrai numerosos turistas, o que incorre num aumento da demanda de favores sexuais.
Para a Campeonato Mundial de Futebol 2010 (que acontecerá de 11 de Junho a 11 de Julho deste ano), prevê-se a chegada de centenas de milhares de apaixonados por futebol à África do Sul.


As organizações de proteção às crianças e de direitos humanos advertem que o tráfico de pessoas pode se agravar com a chegada ilegal ao país de adultos e crianças, que vêm da Ásia, Europa Oriental e de outras regiões de África, para fomentar a indústria do sexo.
Nesta ocasião, a Igreja Católica se prepara para acolher as equipas e visitantes, é claro, mas também para tomar iniciativas de combate ao risco de exploração (veja em www.churchontheball.com).


O arcebispo de Durban, cardeal Wilfrid Fox Napier, explica em entrevista, as atitudes a serem tomadas pela Igreja em favor dos direitos humanos.
Mostra que a iniciativa de uma maior distribuição de preservativos não é eficiente na contenção da difusão do HIV: "É como dizer que o único modo de curar o alcoolismo será dando bebidas gratuitamente a todos os alcoólicos".


- Eminência, o que diz sobre o risco de que haja um aumento da prostituição de menores em razão do Campeonato Mundial de Futebol?
Cardeal Napier: Há sinais de que as máfias dedicadas a isto entraram em ação. Também são crescentes as notícias de crianças desaparecidas e de casos de adolescentes e jovens adultos que são apanhados em oportunidades de trabalho "boas demais para se poder resistir".


- Há atividades específicas que a Igreja gostaria de promover neste evento?
Cardeal Napier: Nós estamos realizando muito trabalho de sensibilização e divulgação de informação, usando casos reais aplicáveis. Da mesma maneira, estamos pedindo ás escolas católicas e as associações de mulheres para darem maior alcance à atividade de divulgação do tema relacionado aos direitos humanos. Por outro lado, eu devo dizer que o governo também tem o mérito de fazer um grande trabalho, mostrando-se aberto a colaborar com as organizações não-governamentais.


- A Igreja Católica é a única que intervém?
Cardeal Napier: Outras Igrejas e associações cristãs, como também as pessoas de outras religiões, estão cada vez mais participativas, por exemplo, a Conferência Mundial sobre Religião e Paz, o Conselho Inter-Religioso KwaZulu e o Fórum Nacional de Líderes Religiosos.


- A verdadeira preocupação deve-se ao medo de uma transmissão maior do vírus HIV face à demanda maior no mercado do sexo. Recentemente, a Grã-Bretanha anunciou que daria 42 milhões de preservativos à África do Sul em resposta a um pedido deste mesmo país que, especificamente para a Copa do Mundo, instituiu um programa de prevenção ao HIV. Qual é o seu ponto de vista?
Cardeal Napier: O Governo de Jacob Zuma nunca deixa de surpreender! Poucas semanas atrás, uma campanha anti-HIV / AIDS foi iniciada e muito divulgada, cujo objetivo é que 15 milhões de pessoas façam o teste de HIV, mas o segundo passo, deste mesmo governo, é aceitar, ou "pedir e aceitar", 42 milhões de preservativos da Grã-Bretanha. É uma loucura!
Diz-se que os preservativos são para a Copa do Mundo: mas só se esperam para o evento entre 250.000 e 300.000 apaixonados pelo futebol; e considerando, obviamente, que nem todos têm um estilo de vida promíscuo, a quem são destinados realmente estes preservativos? Não é talvez outro exemplo da decadência do Ocidente e de sua vontade de vender seus decadentes bens às decadentes elites emergentes?


- Uma última pergunta: como nasceu a oração especial para o Campeonato Mundial de Futebol FIFA 2010?
Cardeal Napier: A oração, como também outros meios de atenção espiritual das igrejas, estará à disposição durante o Campeonato Mundial de Futebol e é fruto de um acordo entre vários âmbitos: conferências episcopais, dioceses e paróquias.

(Mariaelena Finessi)

21 fevereiro 2010

"basta-,me a Tua graça"

Estimada Lígia,

"basta-me a Tua graça" (2 Cor 12,9) é a Palavra que tu escolheste como farol para os teus passos aos serviço do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo – que Palavra maravilhosa!

Parabéns e bem hajas por nos recordares a todos que somos chamados a ser apenas servos ao serviço do Mestre: é Ele quem trabalha em nós e através de nós.

Hoje á noite terá lugar a Vigília de Oração em preparação para o mandato missionário que receberás amanhã; todas as grandes festas da Liturgia são precedidas por uma Vigília, e o teu envio missionário é uma Festa memorável para a Igreja: a tua disponibilidade para o serviço do Evangelho vem na continuidade dos milhares de homens e mulheres que, ao longo dos séculos, se dispuseram a ir "até aos confins da terra" para "pregar o Evangelho a todas as criaturas" segundo o mandato do Nazareno.

Todos estamos bem conscientes de que a missão de anunciar o Evangelho é universal: em todos os tempos, em todos os lugares, a todas as pessoas em todas as situações – "eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim".

A Missão não é geográfica, nunca o foi – é essa a força da sua universalidade. 

A Missão é doação e entrega ao Mestre – tão simples, e tão exigente, como isso.

A Missão é confiança e abandono aos desígnios de Deus – "basta-me a Tua graça".

A Missão não é propriedade nossa – somos apenas a ocasião para que Deus se revele.

A Missão é, por excelência, deixar tudo, sair e partir – em obediência ao Espírito que nos guia.

Estimada Lígia, há algo de extremamente tocante, misterioso – mesmo divino – quando um missionário recebe o Crucifixo do mandato, deixa tudo e parte para ser povo de Deus com outros povos, noutros locais. No mundo em que vivemos é tão difícil deixar tudo e partir… a maioria das pessoas, mesmo na Igreja, não consegue perceber… Feliz de ti a quem o Senhor deu a Sua luz. A felicidade da entrega á Missão é a recompensa do desapêgo das seguranças e a alegria de ir para onde Deus quer.

Estou certo que irás repetir a ti mesma, todos os dias, a Palavra que escolheste – "basta-me a Tua graça". Nos momentos de felicidade e alegria olharás para o teu Crucifixo e dirás "obrigado Senhor, basta-me a Tua Graça"; nos momentos de dificuldade e desalento irás apertar em tuas mãos esse teu Crucifixo e dirás "Senhor, basta-me a Tua graça… basta-me a Tua graça"!

Há uns quinze anos, em Fátima, coloquei-te ao pescoço – como a muitos outros jovens – num CJM (Convívio Juvenil Missionário) uma cruz que tinha sido feita em Moçambique. Desde então nunca, mas mesmo nunca, deixaste essa cruz: que maravilhosa fidelidade a tua!

Bem hajas imensamente, estimada Lígia, pelos muitos anos em que o Senhor nos colocou no mesmo caminho: desde o CTM94 (Campo de Trabalho Missionário de 1994) até… até hoje e até ao futuro de Deus! Bem hajas pela tua generosidade, a tua alegria, a tua disponibilidade, as tuas capacidades. Bem hajas pelo teu exemplo em ter acolhido o mandato do Ressuscitado: "ide por todo o mundo".

Lígia, confia, confia n'Ele sempre: "eis que Eu estou convosco, todos os dias, sempre"!

 

Unido na amizade, estima e admiração asseguro-te a minha Oração.

Um grande abraço para todos na tua família – uma família agora aumentada ao tamanho da Missão!


p. zé martins fernandes
(áfrica do sul)

15 fevereiro 2010

"serei o vosso protector"

No dia 16 de Fevereiro os missionários da Consolata celebram a festa litúrgica do Pai Fundador, o Beato José Allamano. Seguindo a tradição que vem dos tempos iniciais do Instituto de escolher um protector anual, neste ano de 2010 é ele mesmo o Beato Allamano que foi escolhido para nosso protector anual – um protector muito especial para todos nós missionários da Consolata.

Eis aqui, de seguida, parte de uma carta que o Padre Aquiléo Fiorentini, Superior Geral do Instituto da Consolata, escreveu aos missionários espalhados pelo mundo:

 

"É com grande satisfação que vos dou a notícia de que o protector especial do Instituto para 2010 será o Beato José Allamano, nosso Pai Fundador. Os motivos que orientaram esta escolha ligam-se com os eventos que a nossa Família será chamada a vivenciar durante este período específico: A 7 de Outubro de 2010 cumprir-se-á o 20.º aniversário da beatificação do Fundador, acontecimento que tencionamos viver com renovada intensidade para que a santidade do pai continue a propagar-se entre os seus filhos; além disso, no ano 2010 estamos convidados a partilhar da gratidão e da alegria das Irmãs Missionárias da Consolata, a quem estamos ligados em virtude da mesma origem e missão, pelo 100.º aniversário da sua fundação.

 

Desde a sua entrada para a eternidade o Fundador tem sido sem dúvida o nosso protector especial, mesmo quando assim o não designáramos especificamente. A nossa experiência disso é prova. Ele próprio tivera consciência desta sua eterna missão quando, por volta do fim da sua carreira neste mundo nos garantiu «Do céu eu haverei de vos abençoar ainda mais. Farei muito mais do que aqui».

Esta sua tão firme esperança ficou escrita em linguagem claríssima no testamento que deixou aos seus filhos e filhas: «Quando morrer, espero tornar-me vosso protector no céu».

 

Na altura em que, com grande intuição, José Allamano iniciou a linda tradição de designar um protector anual para o Instituto, tinha tido como objectivo explícito dar aos seus filhos e filhas não só um padroeiro mas também um "modelo" de vida. É que ele não se contentava com nos convidar à oração; ele também, indicava sempre uma virtude típica do santo a imitar com especial empenho. Por exemplo, assim se manifestou ele no dia 1.º de Janeiro de 1905: «Este ano o protector especial do Instituto será São Francisco Xavier. Portanto não só temos que lhe rezar com frequência: temos sobretudo que o imitar na humildade e na obediência» (Conferências IMC, I, 82).

 

Bem sabemos que a escolha dos protectores foi muitas vezes inspirada ao Fundador pela sua pessoal sintonia de espírito, como aconteceu por exemplo no caso da escolha de S. Vicente de' Paoli em 1905, de Santo Inácio de Loyola em 1914, do Beato António Neyrot em 1911 ou o Beato José B. Cottolengo em 1918. Ou então a sua escolha era influenciada pela ligação especial de um dado santo à identidade missionária do Instituto, como no caso de S. Fiel de Sigmaringa em 1909, a Beata Teresa do Menino Jesus em 1923 (que então era apenas Venerável), e os Beatos Mártires do Uganda em 1921. Por vezes uma situação específica do Instituto também lhe sugeria a escolha de um protector, como foi o caso de São Francisco de Assis, que ganhou a nomeação por dois anos consecutivos, 1916 e 1917, por causa das dificuldades causadas pela Primeira Guerra Mundial.

 

Todos estes motivos no seu conjuntosão actuais para nós e nos movem a escolher o nosso Pai Fundador como nosso "protector" e "modelo" nesta época em que nos defrontamos com desafios cada vez mais inesperados no que toca à missão, à colaboração apostólica com as igrejas locais e com os leigos, e quando a nossa própria vida comunitária se desenrola na interculturalidade.

Tal como costumava acontecer então, também hoje José Allamano nos garante a coerência com a nossa finalidade especificamente missionária e com o nosso estilo de vida, indicando-nos o modo de a concretizar, de acordo com o seu espírito, nas situações novas que temos de enfrentar, sem o modificar no que é essencial.

 

Durante o ano de 2010 tencionamos rezar mais pela intercessão do Beato Fundador, descobrindo as formas mais convenientes de o fazer, por exemplo valorizando sobretudo o dia 16 de cada mês – a sua festa litúrgica celebra-se a 16 de Fevereiro, dia do seu falecimento. Mas também tencionamos comparar-nos mais com ele, que é nosso modelo sem par, para que o sintamos vivo e, mais do que nunca, presente, tanto a nível pessoal como comunitário".

 

 P. Aquiléo Fiorentini
Superior Geral



05 janeiro 2010

viv'á Missão!

Parabéns Lígia Cipriano!
Chegou finalmente o dia em que podes partir para a tua tão desejada doação como missionária leiga!
Olha como Deus é bom para contigo: na véspera da Epifania, a festa missionária do Natal, Ele manda-te o visto para a Missão na Amazónia - só Ele faz destas coisas, e a quem muito Lhe quer.
Parabéns e, desde já, Missão fecunda e abençoada pelas terras da Amazónia.