sinto-me nascer de novo, estou muito feliz
Acabei de chegar da Missão Catrimani depois de 2 meses e meio, por mim ainda lá estava mas acharam melhor vir a cidade para contactar a família e descansar um pouco.
Sinto-me muito bem, com bastantes picadas dos mosquitos mas, com o tempo, vamo-nos habituando.
Estou a aprender aos poucos a língua Yanomami; é um pouco chato para mim que adoro falar, ainda falo muito pouco a sorte é que alguns já falam um pouco de português e vamo-nos entendendo.
Estou a gostar, como não tinha expectativas tudo corre bem: Gosto da equipa com quem estou, somos 4 mulheres e 3 homens.
Tive mesmo de me despir de tudo, como se começasse a viver uma nova vida; neste momento sou uma pessoa muito diferente, até fisicamente pois emagreci, para mim é óptimo, pois fazemos caminhadas pela floresta.
Cada dia é uma aventura: andar de barco no Catrimani, dormir numa maloca no meio da floresta, tomar banho no rio, beber dessa água, a casa de banho é na floresta, tudo muito diferente do que até hoje tinha vivido.
Muitas vivências fazem-me lembrar a infância, andar descalça, andar no meio da natureza.... a minha mãe dizia que o que fosse encontrar algum dia teria vivido.
Sinto-me nascer de novo, como se tivesse voltado a viver: tudo é tão diferente que sinto-me um bebé.
Estou muito feliz, ter conhecido uma nova realidade uma nova forma de viver.
Este povo dá uma grande lição de vida vivida: viver o dia a dia, do que lhe dá a floresta, do trabalhar da roça. Precisam pouco para viver, têm uma coisa que na nossa sociedade deixou de existir: a liberdade, a paz e muito mais.
Nunca senti tão forte a união na dor: faleceu um jovem yanomami... mexeu muito comigo pois todos choraram a sua morte, todas as comunidades se unem para chorar.
Em princípio estarei aqui na cidade até 13 de Junho; quero voltar logo ao Catrimani, pois lá é que me sinto bem, como que esteja em casa, é a minha nova casa!
Lígia Cipriano
leiga missionária da Consolata - Catrimani, Roraima
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