04 junho 2010

Lígia: uma nova vida na missão de Catrimani

Neste dia enfeitaram-me como uma Yanomami só faltou mesmo foi tirar a roupa.....
Estou com um grupo de crianças que sempre me acompanham para qualquer lado onde vá.
Assim fica mais fácil pois elas conhecem a floresta e os seus perigos.

03 junho 2010

sinto-me nascer de novo, estou muito feliz

Acabei de chegar da Missão Catrimani depois de 2 meses e meio, por mim ainda lá estava mas acharam melhor vir a cidade para contactar a família e descansar um pouco.

Sinto-me muito bem, com bastantes picadas dos mosquitos mas, com o tempo, vamo-nos habituando.

Estou a aprender aos poucos a língua Yanomami; é um pouco chato para mim que adoro falar, ainda falo muito pouco a sorte é que alguns já falam um pouco de português e vamo-nos entendendo.

Estou a gostar, como não tinha expectativas tudo corre bem: Gosto da equipa com quem estou, somos 4 mulheres e 3  homens.

Tive mesmo de me despir de tudo, como se começasse a viver uma nova vida; neste momento sou uma pessoa muito diferente, até fisicamente pois emagreci, para mim é óptimo, pois fazemos caminhadas pela floresta.

Cada dia é uma aventura: andar de barco no Catrimani, dormir numa maloca no meio da floresta, tomar banho no rio, beber dessa água, a casa de banho é na floresta, tudo muito diferente do que até hoje tinha vivido. 
Muitas vivências fazem-me lembrar a infância, andar descalça, andar no meio da natureza.... a minha mãe dizia que o que fosse encontrar algum dia teria vivido.

Sinto-me nascer de novo, como se tivesse voltado a viver: tudo é tão diferente que sinto-me um bebé. 
Estou muito feliz, ter conhecido uma nova realidade uma nova forma de viver.

Este povo dá uma grande lição de vida vivida: viver o dia a dia, do que lhe dá a floresta, do trabalhar da roça. Precisam pouco para viver, têm uma coisa que na nossa sociedade deixou de existir: a liberdade, a paz e muito mais. 

Nunca senti tão forte a união na dor: faleceu um jovem yanomami... mexeu muito comigo pois todos choraram a sua morte, todas as comunidades se unem para chorar.

Em princípio estarei aqui na cidade até 13 de Junho; quero voltar logo ao Catrimani, pois lá é que me sinto bem, como que esteja em casa, é a minha nova casa!

Lígia Cipriano
leiga missionária da Consolata - Catrimani, Roraima