20 julho 2009

E agora?

E agora?

Estive em Somerset desde o dia 28 de Junho, domingo, até o dia 3 de Julho, sexta-feira: tempo para me inteirar e familiarizar com as tarefas que me esperam durante os meses de Julho e Agosto: pregar Jornadas Missionárias nos Estados Unidos, que aqui são chamadas de Missionary Appeals. É a primeira vez que venho aos EUA para este tipo de serviço missionário.

 

Aqui por estas partes, porém, toda a gente sabe o que isso é e como se faz! Incluindo os que, vindos de outros países – tal como eu – aqui se encontram com essa finalidade: Encontrei um colega que trabalha no Quénia e, nas férias académicas de fim de ano, vem regularmente fazer este serviço de angariação de fundos; encontrei também o "nosso" Simão Pedro, de Moçambique: foi um encontro muito breve porque ele chegou de uma das paróquias e, no dia seguinte, eu parti de Somerset; aliás, a urgência da chegada dele prendia-se com o facto que eu teria que usar o carro que ele estava a usar… O Simão Pedro foi deveras muito amável comigo em todos os aspectos – claro ele já anda nisto há três semanas! No final de Julho ele volta a Portugal e, depois, irá iniciar um período de estudos Bíblicos, mas ele ainda não sabe onde, se em Roma ou noutro lugar… Boa sorte Simão, e que tudo seja para o crescimento e a qualidade do serviço à Missão!

 

A minha primeira Jornada Missionária é no Estado do Michigan, a mais de mil e duzentos quilómetros de Somerset: Telefonei ao pároco da comunidade onde sou destinado no fim-de-semana 4 e 5 de Julho e ele disse-me para chegar lá ao meio-dia de sábado dia 4! Como é que vai ser? Bom, parto para Mount Pleasant MI, na sexta-feira 3 de Julho de 2009, ás sete da manhã, e o resto seja o que Deus quiser!


28 Junho 2009: do irmão para os irmãos

Saímos de Proença de manhã cedo – mas não suficientemente cedo para pararmos e matar o bicho pelo caminho – atrasei-me… Assim, por várias vezes o Domingos teve abrir as guélas do Astra para que eu pudesse chegar ao Aeroporto de Lisboa a tempo de todas as (muitas) exigências do voo para os Estados Unidos da América. Já há bastante tempo que me tinha apercebido das dificuldades a superar para quem, vindo por exemplo de África, entra na Europa. Mas para entrar nos EUA é outro para de calças! Quantos controlos que é preciso passar antes de pôr pé no avião… e não acabou aí. Ao entrar no país, para além de prova de não existência de culpas no cartório e do questionário da praxe, há que ser submetido à fotografia dos dez dedinhos das mãos e dos olhos até que, finalmente, lá vem o papelinho com os carimbo dos noventa dias de permissão para estar no país.


Em Lisboa, porém, antes de último abraço ainda tivemos tempo para um cafezinho no "nosso" bar: nosso porque já é nosso hábito tomar lá o café antes da partida – e o meu irmão adora contar umas histórias aos brasileiros do outro lado do balcão!

 

Foram oito horas e tal de voo até chegar a Newark, o aeroporto situado no Estado de New Jersey. Ao entrar no espaço aéreo americano deparei-me, porém, com as consequências dos ataques terroristas do onze de Setembro: o avião descreve uma curva imensa pelo norte – dado que, depois daquela data, não é permitido passar pelos céus de Nova Iorque.


Após a chegada a Newark um colega veio buscar-me para me levar a Somerset, a casa Provincial dos Missionários da Consolata aqui nos Estados Unidos: pouco mais de meia hora e estava entre irmãos, de novo!

Entre outros encontrei o padre Giuseppe Sesana, italiano, que trabalhou na África do Sul durante longos anos, e o padre Marcos Bagnarol, canadiano, que trabalhou em Portugal nos tempos em que eu lá trabalhava também. Fiquei admiravelmente surpreendido com o modo como o padre Marcos se recorda do português castiço e pelo modo adequadamente expressivo em que ele o usa, parabéns!



10 julho 2009

21-27Junho-2009 - Proença: família e amigos

 

No dia seguinte ao da minha chegada havia festa em Cardigos e Chaveira: O P. Manuel Tavares, missionário da Consolata, celebrava as suas Bodas de Ouro Sacerdotais. Antes mesmo da minha chegada a Portugal já a minha cunhada Idalina me tinha convidado, tendo entregue a respectiva quota de adesão para o almoço (cujo ganho era destinado a financiar um projecto missionário do P. Manuel Tavares na Missão de Likeleva, nos arredores de Maputo, em Moçambique.

 

A Igreja paroquial de Cardigos estava à pinha, tal como o salão de festas da capelania da Chaveira: tudo para dar graças a Deus pelo dom de cinquenta anos de sacerdócio missionário, e apoiar concretamente o trabalho missionário através da partilha dos bens.

 

Na festa do P. Manuel estavam presentes, como não podia deixar de ser, também os outros dois famosos moradores da 'Rua dos Padres': Norberto e Victor! Estavam presentes também os padres António, pároco da Freguesia, e o padre Jorge Amaro, missionário da Consolata, nascido nas encostas da Serra da Estrela, mais propriamente na Loriga.

 

A semana passou muito velozmente: de manhã e á tarde eu passava um período de tempo com a minha Mãe e, entretanto, estava por casa do meu irmão até porque precisava descansar, já que os últimos meses na África do Sul foram demasiado cheios e exigentes, e não sei o que me espera nos dois meses e tal de serviço de pregação missionária nos EUA.

 

No sábado, 27 de Junho, o padre Virgílio – com a sua já habitual amabilidade – deu-me a presidência da Eucaristia vespertina na Casa de Repouso: senti-me muito agradecido por poder guiar na Celebração da santa Missa aquela comunidade de idosos e doentes – autênticos Cristos Viventes – estando entre eles a minha Mãe. Bem hajas, Senhor! Entre outras coisas, voltei a recordar quão importante e significativo se pode tornar o sofrimento desses doentes e idosos quando oferecido, em comunhão com a Paixão de Cristo, pelo bem de toda a Igreja. Pedi-lhes que nas suas Orações continuassem a recordar os missionários e as necessidades da Igreja missionária. E foi assim, na Eucaristia, que me despedi da minha Mãe, uma vez mais. Até Setembro – se Deus quiser!

 

O serviço missionário é assim mesmo, radical e sem condescendências – para com todos os intervenientes: para mim que escolhi aceitar o chamamento missionário, mas também para a minha Mãe, idosa e doente, para o meu irmão e cunhada, e para um sem número de pessoas que se relacionam comigo: são todos intervenientes e estão todos envolvidos na grande aventura – e exigência – que é a Missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo!

 

 

20-Junho-2009: Abraços e beijos

Chegados a Proença, deixámos "armas e bagagens" em casa e abalámos directamente para a Casa de Repouso: A Ti Carma da Zoina estaria à espera! Demos a volta aos lugares onde ela costuma estar mas… a Ti Carma não a encontrámos. "Está na Missa" disseram-nos, "deve sair pelas cinco e vinte cinco"; ainda faltava meia hora e, por isso, fomos até à Vila resolver um assunto urgente – o da sede! – e quando voltámos lá estava a Ti Carma já à mesa, pronta para começar a jantar. A minha cunhada Idalina, maravilhoso Anjo da Guarda cheio de carinho e dedicação, andou à procura duma cadeira de rodas para levar a minha Mãe à Missa e, agora, estava a dispor as coisas na mesa para que ela pudesse começar a jantar.

 

Foi um abraço longo-longo e tantos, tantos beijos! Que saudades, meu Deus, que saudades! Bem hajas, Senhor, por me dares esta maravilhosa possibilidade de voltar a estar com a minha Mãe. Que maravilhoso presente o bom Deus me deu neste dia da festa da nossa querida e terna Mãe Consolata! Este dom, estou bem certo disso, é também a resposta às Orações dos cristãos das comunidades de Osizweni, que continuamente me perguntavam pela "Gogo" (Avó) e prometiam continuar a rezar por ela.

 

Encontrei a minha Mãe muito melhor do que da última vez que a vi, em Março deste ano. Nessa ocasião estive dez dias com ela mas, quando no final regressei à África do Sul, ela nem se apercebeu que me fui embora; depois a sua saúde complicou-se ainda mais; no final de Março e durante o mês de Abril o meu irmão e a minha cunhada telefonava-me diariamente – às vezes mais do que uma vez – e informavam-me do seu péssimo estado de saúde; durante esse tempo eles iam ao hospital de Castelo Branco uma e duas vezes por dia, e o que viam não foi animador durante muito tempo; o seu estado de (não)saúde era de tal modo que chegaram a esperar o pior, assim me diziam… mas a bondade de Deus é ilimitada e maravilhosa! No final de Abril a minha Mãe começou a melhorar e voltou para a Casa de Repouso, em Proença. Tinha recuperado a capacidade de falar, com sentido, conteúdo e memória e – após algumas semanas – já conseguia alimentar-se pela sua própria mão: Bendito seja o Bom Deus!

20-Junho-2009: Lisboa - Proença-à-Nova

Hoje é a festa litúrgica de Nossa Senhora da Consolata! No meu deambular para-gastar-tempo pelo terminal aéreo de Frankfurt quantas vezes a minha mente e o meu coração se deixaram transportar em oração e reflexão, considerando este dia da nossa Padroeira e o que Ela significa para os filhos e filhas do Allamano, assim como as comunidades cristãs por eles fundadas e assistidas nos quatro cantos do mundo. E eu ía-Lhe dizendo: "bem hajas, querida Mãe Consolata, por tantas e tantas graças que nos obténs; bem hajas pela bondade dos teus filhos e filhas, pelo carinho e bondade de quantos te invocam com o doce e terno nome de Consolata, bem hajas Mãe querida por todas as obras de bem-fazer originadas pelo teu carinho e amor para com os pobres e para quantos são tocados, em suas vidas, pela verdadeira Consolação, Jesus Cristo – o único nome no qual podemos ser salvos"!

 

Era quase meio-dia quando o avião da Lufthansa tocou solo português em Lisboa. Sair do avião, documentos, bagagem e… Generoso, fiel e dedicado como sempre, lá estava o Domingos à minha espera – acompanhado pelo Pedro e a Ana: que linda surpresa! Foi o tempo das boas vindas e dos abraços – desta vez não havia tristeza nem ansiedade nos nossos olhares, apenas alegria e gratidão pelo reencontro entre irmãos que se amam, se apreciam e se estimam como só os irmãos sabem fazer.

O Pedro e a Ana ficariam por Lisboa mas, antes de nos separarmos, houve tempo para um saboroso almoço no "vasquito" como disse o Pedro – o centro comercial Vasco da Gama!

 

Abraços de despedida ao Pedro e Ana, e aí vamos nós dois manos a caminho de Proença, parando nalguns sítios pois o calor apertava e havia que… "dar de beber à sede"; até porque, eu que vinha do Inverno sul-africano, sentia ainda mais a "sequidão" do Verão português antecipado.

 

 

19-Junho-2009: Pretoria - Lisboa

Ao princípio da tarde o padre Jesús Ossa leva-me ao aeroporto de Joanesburgo, agora baptizado de OR Tambo Airport. Devido ás muitas tarefas da última hora – melhor dito das últimas semanas! – atrasei-me na saída de casa em relação à hora combinada com o padre Jesús; não obstante isso conseguimos chegar ao aeroporto a tempo de fazer o check-in dentro do tempo previsto; devido ao número elevado de voos que se realizam ao fim do dia, e era uma sexta-feira, aconteceu uma grande demora na passagem da segurança e no controlo de documentos pelo que, depois disso, foi um corre-corre até embarcar no avião (acho que deveria dizer-se "enviãoar" pois aquilo não é um barco mas sim um avião!)

 

As longas viagens de avião têm a enorme vantagem de constituir uma oportunidade única para ocupações tais como: reflexão, meditação, revisão, planeamento… E tinha tantas coisas a transbordar da chávena da minha vida nos últimos meses, semanas e dias…

Por outro lado, com o preço a que estão os bilhetes de avião, há que usar bem o tempo de voo!

A viagem correu bem até porque, devido ao cheio que o avião estava, nem havia espaço para mexer os braços, se bem que as onze horas até Frankfurt, Alemanha, demoraram a passar. Tive que passear pelo terminal aéreo de Frankfurt mais de cinco horas mas, esse 'passeio' levou a que o bilhete custasse uns seiscentos 'europeus' a menos do que indo directo para Lisboa!

 

 

Ajudar para... receber ajuda!

Nos primeiros meses de 2008, os missionários da Consolata da África do Sul fizeram um pedido ajuda financeira às Obras Missionárias Pontifícias da América do Norte: tratava-se de apoiar, por um lado, o Seminário Maior a ser estabelecido na Delegação da Consolata e, por outro, os grupos de Voluntários de Cuidados Domésticos que cuidam dos doentes terminais de SIDA em suas casas.

Para poder ter acesso a essa ajuda, os nossos colegas da América do Norte, pediram a nossa colaboração na pregação de Jornadas Missionárias que, tradicionalmente, se realizam durante o Verão americano e que são chamadas de Missionary Appeals porque, de facto, se trata de appeals, apelos!

Assim, foi decidido que o superior da Delegação – por ser quem está mais livre de compromissos pastorais fixos – seria enviado aos EUA para fazer esse serviço de pregação e angariação de fundos; após vários contactos epistolares ficou decidido que o missionário da África do Sul iria fazer nove Jornadas Missionárias seguidas, ou seja, todos os domingos de Julho e Agosto – um grande desafio sobretudo para quem, como eu, nunca tinha ido aos Estados Unidos da América fazer esse tipo de trabalho.