24 novembro 2009

bem haja, padre Alfredo!




Através do meu irmão Domingos, tive conhecimento há momentos do falecimento do nosso querido Pe. Alfredo Dias.
Aconteceu que, estando á mesa, me encontrava a falar com os meus colegas (um italiano e outro colombiano) e estava a contar-lhes que o meu Pároco, que me recebera quando entrei para o seminário, se encontrava hospitalizado em situação de saúde muito fragilizada - nesse momento chegou o telefonema do meu irmão...
O funeral terá lugar amanhã, e eu confesso que teria imenso gosto em poder estar presente... A minha situação não me permite de modo nenhum concretizar esse desejo de estar pessoalmente presente. 


Estarei presente, isso sim, através da minha Oração: Lembrá-lo-ei de modo especial na Eucaristia das 8 manhã (6 em Portugal) e sei que ele vai estar muito presente durante todo o meu dia - e na minha vida.
Estive pela última vez com o Pe. Alfredo nos primeiros dias de Outubro passado quando, visitando a minha Mãe no Lar, fui ter com ele para o saudar e lhe perguntar como estava: "olha, vou indo mas esta perna direita não está a funcionar muito bem... não sei o que é que aqui haverá..." Eu ri-me com ele e disse "mas agora também já não precisa de correr muito, pois não Sr. Pe. Alfredo?" Ele sorriu e concluiu "tens razão, agora os meus caminhos são curtos".
O Pe. Alfredo foi quem me recebeu - e me fez o exame de admissão - quando eu exprimi o desejo de entrar para um seminário missionário: recordo que me fez sentir muito livre, sem exercer alguma pressão.


Durante os anos de seminário recordo que era ele quem - durante as férias - reunia todos os seminaristas ás quintas-feiras, celebrava a Eucaristia e, de seguida, fazia uma sessão de formação.
Desde muito jovem fiquei marcado pela sua devoção á Santíssima Eucaristia e pelo entusiasmo e dedicação com que realizava os sagrados Lausperenes nas comunidades da Paróquia. Recordo sempre, com enorme emoção, as procissões nocturnas com o Santíssimo pelas ruas, quelhas e caminhos das Cimadas!


Nos anos recentes, recordo a abertura e disponibilidade do Pe. Alfredo em dar visibilidade á minha vocação ao serviço da Igreja missionária; em particular recordo a celebração dos meus 25 anos de sacerdócio e os meus dois envios missionários a partir da paróquia de Proença-á-Nova.
Quando eu passava por Proença e ele me introduzia á comunidade na Eucaristia recordo que, várias vezes se esquecia do meu nome e acabava por dizer "hoje temos connosco o padre...... o padre Zé da Zoina"!


Os meus sinceros pêsames á comunidade cristã de Proença-á-Nova e á Diocese de Portalegre e Castelo Branco por esta viragem de página na vida de um homem que, através do Sacerdócio ministerial, serviu longa e intensamente o povo cristão.


As minhas Orações são de gratidão ao Senhor da Vida, imensa gratidão, pelo dom que foi o Pe. Alfredo para quantos tiveram a Bênção de o encontrar nos caminhos da vida, pelo exemplo, determinação e espírito de serviço que ele nos deixou.


carta a um missionário


Querida Maria Fernanda,
não nos conhecemos mas, confesso, a tua carta emocionou-me intensamente. E perguntei-me: "como é possível alguém entender tão bem o lado pessoal e íntimo da nossa vida?"

Maria Fernanda, creio que já habitamos na mesma aldeia: a aldeia daqueles que, não obstante as suas imperfeições e as suas incapacidades, se entregam afincadamente á construção dum mundo onde todos possam saborear a Vida na sua plenitude.

É linda a paixão dos teus sentimentos e a admiração que dedicas aos missionários! 
Deixa-me dizer-te, porém, duas verdades: a)  como seria bom sermos perfeitos quanto os teus olhos nos vêm; b) todos os parágrafos da tua carta exprimem verdades e realidades maravilhosamente intensas, pelas quais passamos todos os dias da nossa vida missionária - e não tenho outras palavras para te dizer a minha gratidão senão aquelas que aprendi desde pequeno: Bem hajas! Muito mesmo.

p. zé martins
missionário na áfrica do sul

Eis a carta da Maria Fernanda:

Querido irmão, já vai longe o dia em que te vimos partir. 
Uma partida com destino certo, mas em que a única certeza, era a felicidade de sabermos que ias ao encontro daqueles que tão carinhosamente te esperavam, e que tão ansiosamente aguardavam a partilha do teu saber. Não era só a tua sabedoria, mas também o teu amor, a tua alegria, a tua fé e a tua coragem, que estavas disposto a dar, sobretudo para falar d’Aquele que te chamou e te enviou para junto deles.
Todos esses corações, todos esses sorrisos, todas essas famílias, todo esse movimento fraterno te tinha preparado uma excelente recepção de boas-vindas, bem como um “Lar” doce e acolhedor, que certamente pudeste desfrutar até hoje, apesar de rudimentar, pequeno e sem prazo.
Durante todo este tempo, tiveste a oportunidade de lhes dar a conhecer a Palavra e o Amor do Senhor nosso Deus, com os teus gestos, as tuas atitudes, a tua audácia e a tua devoção, enriquecendo e alargando os horizontes dos mais pobres e dos mais humildes, fortalecendo os mais fracos e abandonados, aproximando-os mais uns dos outros e de Jesus Cristo. 
Tudo isso se deve à tua disponibilidade! Tu que deixaste a tua família, os teus amigos, a tua terra e que te despojaste de todos os teus bens, trocando tudo isso por dias e noites sem horas, alimentos e refeições sem sabor, água imprópria ou escassa, climas destemperados ou imprevisíveis, tempestades de areia ou de escuridão, estradas desertas ou caminhos sem trilho, horizontes desnivelados ou sem cor...vida sem tempo mas com perdão!
No entanto toda a gratidão que recebeste, todo o brilho dos olhos que encontraste, todo o calor dos abraços que sentiste, toda a solidariedade que presenciaste, toda a amizade que fizeste, todos os ritmos que dançaste, todas as línguas que aprendeste, toda a humanidade que viste crescer, toda a natureza que observaste, todas as árvores que plantaste, todas as sementes que viste nascer - tudo isso te faz ficar, tudo isso te faz renovar... apesar da saudade que te aperta e do choro que te sufoca...
E vais ficando, viajando, ensinando, partilhando, amando e evangelizando.
E, nós por cá, vamos rezando, crescendo e multiplicando, vivendo e envelhecendo.
Pedimos-Lhe protecção para a tua missão, porque no fundo da nossa alma, o nosso sonho é igual ao teu, sermos missionários um dia, em homenagem ao Pai e a ti, irmão!

Maria Fernanda Pinheiro da Costa




18 novembro 2009

de "padre branco" a bispo


Jan de Groef é membro dos Missionários d'África, vulgarmente conhecidos por "padres brancos" devido ao hábito que os identificava como missionários.
Neste ano de 2009 Jan de Groef foi eleito bispo de Bethlehem, na província do Free State, África do Sul.

Monsenhor de Groef manifestou imensa generosidade em se dispôr a acolher na sua diocese um dos nossos missionários para o estudo da língua Sútho.



Ontem passei por Bethlehem - juntamente com o padre James Mwigani - para lhe agradecer pessoalmente a amabilidade que teve para com os missionários da Consolata.
Foi uma viagem de 850 quilómetros mas valeu bem a pena pelo tempo que passámos com D. Jan de Groeg e com o nosso confrade que está agora a terminar o estudo da língua Sútho e que, na segunda parte de Dezembro, começará a trabalhar na township de Daveyton, nos arredores de Johannesburgo.
Conheci de perto os "padres brancos" quando, em 2005, estive três meses com eles em Jerusalém.