24 novembro 2009

carta a um missionário


Querida Maria Fernanda,
não nos conhecemos mas, confesso, a tua carta emocionou-me intensamente. E perguntei-me: "como é possível alguém entender tão bem o lado pessoal e íntimo da nossa vida?"

Maria Fernanda, creio que já habitamos na mesma aldeia: a aldeia daqueles que, não obstante as suas imperfeições e as suas incapacidades, se entregam afincadamente á construção dum mundo onde todos possam saborear a Vida na sua plenitude.

É linda a paixão dos teus sentimentos e a admiração que dedicas aos missionários! 
Deixa-me dizer-te, porém, duas verdades: a)  como seria bom sermos perfeitos quanto os teus olhos nos vêm; b) todos os parágrafos da tua carta exprimem verdades e realidades maravilhosamente intensas, pelas quais passamos todos os dias da nossa vida missionária - e não tenho outras palavras para te dizer a minha gratidão senão aquelas que aprendi desde pequeno: Bem hajas! Muito mesmo.

p. zé martins
missionário na áfrica do sul

Eis a carta da Maria Fernanda:

Querido irmão, já vai longe o dia em que te vimos partir. 
Uma partida com destino certo, mas em que a única certeza, era a felicidade de sabermos que ias ao encontro daqueles que tão carinhosamente te esperavam, e que tão ansiosamente aguardavam a partilha do teu saber. Não era só a tua sabedoria, mas também o teu amor, a tua alegria, a tua fé e a tua coragem, que estavas disposto a dar, sobretudo para falar d’Aquele que te chamou e te enviou para junto deles.
Todos esses corações, todos esses sorrisos, todas essas famílias, todo esse movimento fraterno te tinha preparado uma excelente recepção de boas-vindas, bem como um “Lar” doce e acolhedor, que certamente pudeste desfrutar até hoje, apesar de rudimentar, pequeno e sem prazo.
Durante todo este tempo, tiveste a oportunidade de lhes dar a conhecer a Palavra e o Amor do Senhor nosso Deus, com os teus gestos, as tuas atitudes, a tua audácia e a tua devoção, enriquecendo e alargando os horizontes dos mais pobres e dos mais humildes, fortalecendo os mais fracos e abandonados, aproximando-os mais uns dos outros e de Jesus Cristo. 
Tudo isso se deve à tua disponibilidade! Tu que deixaste a tua família, os teus amigos, a tua terra e que te despojaste de todos os teus bens, trocando tudo isso por dias e noites sem horas, alimentos e refeições sem sabor, água imprópria ou escassa, climas destemperados ou imprevisíveis, tempestades de areia ou de escuridão, estradas desertas ou caminhos sem trilho, horizontes desnivelados ou sem cor...vida sem tempo mas com perdão!
No entanto toda a gratidão que recebeste, todo o brilho dos olhos que encontraste, todo o calor dos abraços que sentiste, toda a solidariedade que presenciaste, toda a amizade que fizeste, todos os ritmos que dançaste, todas as línguas que aprendeste, toda a humanidade que viste crescer, toda a natureza que observaste, todas as árvores que plantaste, todas as sementes que viste nascer - tudo isso te faz ficar, tudo isso te faz renovar... apesar da saudade que te aperta e do choro que te sufoca...
E vais ficando, viajando, ensinando, partilhando, amando e evangelizando.
E, nós por cá, vamos rezando, crescendo e multiplicando, vivendo e envelhecendo.
Pedimos-Lhe protecção para a tua missão, porque no fundo da nossa alma, o nosso sonho é igual ao teu, sermos missionários um dia, em homenagem ao Pai e a ti, irmão!

Maria Fernanda Pinheiro da Costa




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