20 abril 2006

Mbáli quer levantar-se…

Vou chamar-lhe Mbáli, Flor!
Sim, chamo-lhe Mbali porque estou em eMbalenhle, "no lugar da flor bonita".
Mas Mbáli está a definhar e a murchar; há mais de dois anos…
Tínhamos ido ver como andava os trabalhos de acabamento na nova igreja, que será inaugurada no dia 27 de Maio e… decidimos ir visitar a Mbáli. Entrámos no pátio – todo bem varrido e em ordem – e, de dentro da casa uma voz deu-nos as boas vindas. Era a mãe da Mbáli que lhe estava dando de comer.

Vivem num quarto, de 4 metros por três, forrado com chapas de zinco, construído nas dependências da casa da família que as acolhe. O pai da Mbáli faleceu no penúltimo mês do ano passado. O pouco que têm está em ordem e o ambiente está muito limpo. Em cima da mesa-de-cabeceira, um terço de plástico espera mãos que o usem em Oração…

Mbáli está deitada, de lado, com a cabeça ligeiramente mais elevada; os seus olhos – grandes e belos – sobressaem demasiado no rosto emagrecido; os braços estão debaixo do cobertor, não tem força para os levantar… Fazemos-lhe uma festa na cara, reconhece-nos e… esboça um sorriso. Mbáli tem uns 25 anos e é doente de Sida.
Há mais de dois anos que está assim. “De manhã quase quer levantar-se”, diz-nos a mãe que, carinhosamente, lhe vai colocando alguma comida na boca, “mas é impossível pois não se mexe da cintura para baixo”...

A mãe da Mbáli cuida dela dia e noite, mas não lhe vemos qualquer traço de rancor, irritação ou impaciência. Perguntamos ‘como conseguis viver’ e… deixamos uma ajuda para o que for mais necessário e urgente.

Não há muito para conversar, as palavras apresentam-se vazias e ocas de sentido perante tão silencioso sofrimento e – paradoxalmente – perante tanta serenidade. Levantamo-nos para rezar: ‘Senhor, por favor, olha por esta tua filha, dá-lhe força e, se é de acordo com a Tua vontade, por favor, dá-lhe as melhoras que ela tanto necessita’!

Uma outra carícia na face da Mbáli – e a resposta é o seu olhar: um olhar profundo, intenso, cheio de ânsia de viver. E é tudo quanto Mbáli nos diz.
Adeus Mbáli, bem hajas!

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