23 abril 2006

tudo entre eles era comum

Há certas páginas da Bíblia que se apresentam de leitura difícil, muito difícil; pelo menos para mim…
Na primeira leitura de hoje falava-se do modelo da primeira comunidade cristã: era assim mesmo com está escrito? Foi apenas uma fase? Era um projecto, um desejo, um sonho?
Estou convencido que terá sido tudo isso! E não apenas durante uns escassos anos, ou apenas em alguns lugares, não. A comunidade dos cristãos é habitada, desde sempre, por esse projecto-na-realidade, por esse sonho-no-concreto, em todas as fases do caminho que os discípulos do Ressuscitado percorrem. Em todos os tempos e lugares. Também aqui, em eMbalenhle!



Foi isso que presenciei hoje, uma vez mais, durante a Eucaristia: A alegria, entusiasmo e entrega que se verificava na comunidade enquanto cantava, enquanto apresentava as orações e, de modo muito sensível, durante o ofertório.

Nas celebrações dominicais o momento do ofertório dura pelo menos dez minutos ou mais. Estou em crer que é o momento mais participado: de forma ordenada, começando pelos bancos da frente, todas as pessoas saem do seu lugar pelo lado de fora dos bancos em direcção ao fundo da igreja para, em procissão, irem depositar a sua oferta nos cestos em frente dos degraus do altar.
De seguida tem lugar a segunda fase do ofertório, quando os cestos são levados para o fundo da igreja e tem início a solene procissão ofertorial: toda a assembleia se levanta e acompanha, com o canto e movimento, a oferta dos dons.

Para além do ofertório e do pão e do vinho há outras ofertas que, todos os domingos, são levadas ao altar – e aqui está uma expressão da comunhão de bens. Hoje, por exemplo, entre as ofertas havia: arroz, pacotes de massa, farinha de milho, maçãs, café, detergentes para a louça e roupa, dois frangos (congelados), chá… Certo, não é com isto apenas que se resolvem os problemas dos pobres, ou que se consegue satisfazer todas as necessidades – mas esta é, sem dúvida, uma atitude de quem compreende o desafio cristão da fraternidade e da partilha dos bens.

Há porém outras formas de partilhar o que se tem – tudo o que se tem – para ajudar a construir a novidade que a comunidade cristã é chamada a ser. Que tipo de partilha? Estou pensando no meu colega e em mim mesmo: estamos a viver aqui em eMbalenhe, com estas pessoas a quem fomos enviados, aqui no lugar onde elas habitam; e não tenho a menor dúvida que nós somos os únicos brancos entre os mais de 200.000 habitantes de eMbalenhle; e não somos sul-africanos, nem estamos aqui a fazer dinheiro, não.
Estamos aqui como cristãos, como discípulos de Jesus de Nazaré, partilhando a nossa vida – a totalidade da nossa vida: O que está em jogo é a pessoa de cada um de nós – não apenas as nossas coisas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que testemunho bonito. Muito Obrigado.
Estamos sempre juntos em Cristo.
Beijinhos e Abraços.
David, Margarida, Susana e João